Boletim de Conjuntura Econômica da USJT – 20 – Janeiro a Junho de 2023
O crescimento econômico atingiu 3,3% nos últimos quatro trimestres, sendo puxado pela agropecuária, com recuo da atividade industrial e baixo crescimento dos serviços.
Estes resultados setoriais convergem para um processo mais amplo da economia brasileira: uma reprimarização das atividades combinada com um tipo particular de desindustrialização combinados com uma terciarização de baixa complexidade econômica.
Fazendo uma leitura Keynesiana, pela demanda agregada, nota-se que os investimentos (FBKF) caíram enquanto o consumo se expandia. Ou seja, o crescimento econômico verificado foi sustentado pelo consumo das famílias brasileiras.
Aliás, os serviços que mais cresceram foram os serviços prestados às famílias, que são predominantemente serviços de baixo e médio valores agregados.
Não à toa, o rendimento médio do trabalho sequer atingiu 3 mil reais e desta forma, permitiu que se consumisse bens e serviços de menores valores agregados, tornando a demanda por trabalho precária cada vez maior.
Estes dados permitem que se levante uma hipótese: com um crescimento econômico mediano, puxado por atividades econômicas de baixa complexidade tecnológica, cria-se uma demanda por trabalhos de menor remuneração e precários, estimulando também os trabalhos informais; com estas ocupações mal remuneradas estimula-se a produção de bens e serviços menos sofisticados, que comprometem o avanço da produtividade do trabalho e da PTF, criando um círculo vicioso e contínuo que impede o nosso desenvolvimento socioeconômico.
Há outro dado do boletim que converge para a hipótese acima: houve a queda dos bens de capital e crescimento dos bens de consumo duráveis.
Estes bens de capital (máquinas e equipamentos) costumam se expandir diante de uma política industrial efetiva, enquanto a combinação de consumo de bens duráveis com trabalhadores de baixa renda e juros elevados, resulta em famílias endividadas e ainda pressionadas pelo alto desemprego.
Estes juros elevados ampliam as despesas com a dívida pública, embora também reduzam parcialmente a inflação.
Aliás, a inflação nos últimos 12 meses se aproxima da meta, mas suas outras causas não
têm sido combatidas (problemas no lado da oferta agregada, na inércia etc.).
Embora a cesta básica tenha caído em algumas capitais, seu preço ainda consome parte expressiva das rendas dos trabalhadores menos remunerados, pois o custo de vida nas capitais costuma ser mais elevado.
A economia brasileira possui, historicamente, elevadas elasticidades produto-emprego, geradas em
grande parte por sua baixa produtividade do trabalho, mas o crescimento econômico verificado neste boletim parece não ter gerado empregos e ocupações na proporção destas históricas elasticidades, sugerindo que talvez parte deste crescimento tenha ocorrido em setores menos intensivos em trabalho.
O rendimento médio do trabalho aumentou, mas seu nível médio ainda é relativamente baixo e provavelmente seu poder de compra ainda não se recompôs pós-pandemia.
O salário base da economia (salário-mínimo) também acrescentou pouco ao poder aquisitivo dos
menores salários. O lado externo da economia brasileira, além da já conhecida baixa complexidade das exportações, mostrou um aspecto um tanto esquecido nas análises recentes: exportamos para poucas economias, tornando-nos dependentes delas (baixa diversificação à la Furtado).
Nossa dependência dos capitais estrangeiros também se fez presente, com cifras relativamente elevadas quando comparadas com nossas reservas internacionais. Em suma, voltamos a crescer um pouco por meio de atividades menos complexas e de menor remuneração; este crescimento também está dependente mais do consumo das famílias, incluindo as mais pobres, ao invés de depender mais dos investimentos (FBKF); a inflação tem caído, mas o preço é elevado: juros altos, aumento das despesas com a dívida pública e menor crescimento econômico; o lado externo apresenta menor vulnerabilidade externa, mas não há indícios de modernização produtiva da economia brasileira.