Boletim de Conjuntura Econômica da USJT – 19 Julho a Dezembro de 2022

O crescimento econômico moderado em 2022 (próximo de 3%) contribuiu para a queda do desemprego (próximo a 9%), mas foi insuficiente para recuperar os rendimentos do trabalho em relação a 2021, mantendo a média salarial próxima a R$ 2500, mesmo com um crescimento salarial em praticamente todas as atividades em outubro de 2022. A desigualdade da renda do trabalho também se manteve elevada, com um Gini aproximando-se de 0,5. A combinação de Gini elevado com salários baixos gera compromete o consumo de bens e serviços de alto valor agregado uma vez que milhões de trabalhadores irão auferir baixos salários. Algumas evidências econométricas atuais sugerem que economias com elevadas desigualdades de renda crescem menos. Os serviços puxaram o crescimento econômico em 2022 e as atividades que o compõem são predominantemente de baixa complexidade econômica. Uma das prováveis causas do crescimento econômico em 2022 foi a elevação dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo), aproximando-se de 19% do PIB. Contudo, ainda está relativamente baixo quando comparado ao auge da nossa industrialização nas décadas de 60 e 70.

A inflação em 2022 recua para perto de 6,0% ao ano (IPCA), mas ainda está bem acima do centro da meta de 3,5% ao ano e está sendo puxada pelos alimentos, saúde e transportes, dentre outros e prejudicando, principalmente, a população de menor renda. O combate a inflação por meio do modelo de metas manteve a Selic elevada em 2022, prejudicando o crescimento econômico. Houve problemas do lado da oferta também, com escassez de alguns produtos, fazendo com que seus preços pressionassem a inflação. O mercado de trabalho gerou empregos em 2022, mas manteve elevado o trabalho informal. Houve em 2022 um crescimento da arrecadação tributária que gerou até um superávit primário, mas a estrutura das despesas continua concentradas nos serviços da dívida interna e na previdência. Parece distante uma reforma tributária concreta e efetiva na economia brasileira. Macroeconomicamente é, no mínimo não recomendável, ter a arrecadação tributária crescendo mais que a economia (PIB). Este descolamento entre as duas taxas de crescimento (PIB e arrecadação) sugere que nossa arrecadação “extra” não foi utilizada como política fiscal expansionista capaz de expandir nosso crescimento anual. Os percentuais gastos com saúde, educação e trabalho são relativamente baixos diante dos nossos desafios de capital humano (saúde + educação +trabalho).

As contas externas mostram um problema estrutural histórico: pagamentos elevados de juros e remessa de lucros para o exterior. O déficit nas contas externas em 2022 foi coberto pelo ingresso dos investimentos diretos na economia brasileira, que, em grande parte, são constituídos por capitais de curto prazo sujeitos às variações da Selic. Nossa balança comercial, pesar de superavitária no ano, continua composta de bens de baixa complexidade econômica e tecnológica, com destaque para as commodities. Houve uma ligeira queda das reservas internacionais até outubro (US$ 33 bilhões), mas o nível ainda se mantém acima de um encaixe técnico de segurança de dois anos de importações. O crédito às famílias próximo a 1/3 do PIB, combinado com nossas elevadas taxas de juros bancários, geram um ambiente monetário pouco estimulante do crescimento econômico. Em suma, 2022 ainda não foi o suficiente para a retomada sustentada do crescimento econômico e da renda do trabalho no Brasil, embora neste ano, apesar de ser de forma incipiente, há sinais opacos de uma ligeira recuperação macroeconômica.

O novo governo que assumirá em 2023 terá desafios econômicos significativos: 1. desenhar outro modelo de crescimento econômico com a criação de instituições políticas e econômicas inclusivas capazes de estimular um crescimento de longo prazo baseado em capital humano e inovações tecnológicas; 2. reduzir a desigualdade da renda do trabalho (que estimulará o crescimento econômico); 3. rever o atual modelo de metas com o qual se controla a inflação (sem a necessidade de abandoná-lo, mas complementá-lo, pois, há outras causas inflacionárias); 4. praticar uma política fiscal que amplie os investimentos em infraestrutura; 5. utilizar a política monetária para também estimular o ambiente de negócios e assim o crescimento econômico; 6. repensar o desenho institucional das regras para o trabalho, com regulação pró trabalhador; 7. propor uma política industrial e de serviços que modernize parte da nossa indústria, a reindustrialize e a torne mais complexa.

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