Boletim de Conjuntura Econômica da USJT – 21 – Julho a Dezembro de 2023
O crescimento econômico em 2023 tem chances de ficar perto de 3%, puxado principalmente pelos serviços. Predominam na economia brasileira os serviços de baixa sofisticação tecnológica, indicando que as atividades de menor produtividade do trabalho provavelmente contribuíram mais para o nosso crescimento econômico. A queda da formação bruta de capital e seu baixo estoque em 2023 sugerem que uma retomada mais vigorosa do nosso crescimento econômico para 2024 é improvável. A queda da Selic em 2023, nos moldes do modelo de metas de inflação, ainda se mostrou insuficiente para dinamizar a economia brasileira. A queda dos bens de capital alinha-se com um baixo estoque de FBKF que reduz um possível efeito multiplicador sobre a renda nacional. Como alternativa macro, resta nos expandir os gastos públicos e assim manter a elevada participação dos gastos com a dívida interna nas contas públicas.
O investimento direto no país (IDP), embora tenha atingido um patamar relativamente elevado, não parece ter sido predominantemente de longo prazo, pois o FBKF não se mexeu. Este IDP mostra-se importante para o equilíbrio das contas externas, mas não parece relevante para a modernização da estrutura produtiva nacional. Nossa dependência de poucos parceiros comerciais também sugere baixa diversificação das exportações e da economia brasileira, tornando-a dependente de commodities de baixo valor agregado. A baixa diversificação da economia brasileira confirma o estudo seminal de Furtado de 1959, em Formação Econômica do Brasil, no qual o autor coloca que uma das causas do nosso subdesenvolvimento é nossa baixa diversificação produtiva e dependência de poucos produtos. O saldo negativo em transações correntes, gerado em grande parte pela remessa de lucros e juros, também aponta para as tradicionais formas de dependência já destacadas pela CEPAL nos anos de 1960. Com juros ainda elevados internacionalmente, há uma pressão para a valorização da moeda nacional com impactos diretos sobre a indústria de transformação, seguindo assim a marcha da desindustrialização.
A inflação sob controle, embora seja fundamental em macro, ocorre às custas de um crescimento econômico mediano com reflexos para o nosso mercado de trabalho, que ainda mantém parte expressiva de sal força de trabalho em atividades precárias. Não é à toa, que os conta própria têm se expandido em 2023, apresentando até ganhos salariais não desprezíveis. Esta taxa de crescimento mediana também se reflete na desocupação, que ainda está acima de uma pretensa taxa natural de desemprego (desocupação próxima de 8% em 2023).
O endividamento das famílias, próximo dos ¾ das famílias, completa o mosaico de um mercado de trabalho com baixos rendimentos e com baixa produtividade do trabalho, com oportunidades ocupacionais concentradas em atividades pouco ou nada decentes. Juros elevados combinados a rendimentos do trabalho baixos, geram dívidas altas. A inadimplência, embora o discurso oficial dos bancos diga que seja alta, mantém relativamente baixa criando uma cortina de fumaça para a ampliação dos spreads bancários. Nossas regras do jogo institucionais, na política e na economia, ainda não evoluíram o bastante para destravar nosso desenvolvimento socioeconômico. Instituições inclusivas, iniciando na política, são fundamentais para a criação de instituições econômicas mais eficientes.