Boletim de Conjuntura Econômica 16 – jul a set 2021
O crescimento econômico acumulado no ano de 2021 (6,4%) não foi suficiente para recompor o PIB ao nível de 2014. Os serviços puxaram este crescimento. Contudo, ao se comparar o crescimento econômico do segundo trimestre deste ano com o segundo trimestre de 2020, nota-se uma queda relativamente discreta da atividade econômica da ordem de -0,1%. Este último resultado é compatível com a queda ocorrida também nos investimentos (FBKF). Aliás, o FBKF já estava baixo para padrões nacionais. A prévia do PIB (IBC-Br) também apresentou queda em setembro. A indústria e o setor de bens de capital também caíram em setembro. O comércio recuou em setembro.
Estes resultados da atividade econômica ajudam a compreender os indicadores de mercado de trabalho descritos, com destaque para a elevada desocupação, quedas nos rendimentos do trabalho e crescimentos maiores em ocupações mais precárias, tais como os sem carteira e trabalhadores domésticos. O baixo crescimento reduz a dinâmica do mercado de trabalho. A arrecadação federal cresceu e a dívida bruta ficou estável, indicando uma certa timidez na condução da política fiscal de combate aos efeitos da pandemia. Os juros de mercado e o spread continuam elevados, desestimulando o crescimento econômico e o mercado de trabalho. As reservas internacionais ficaram estáveis, sugerindo um certo conservadorismo na política cambial, pois houve intensa desvalorização do Real que poderia ser atenuada por uma política cambial mais agressiva de venda-queima de reservas. Esta desvalorização do Real contribuiu para a aceleração da inflação, levando-a a dois dígitos em 2021. As instabilidades políticas, intensificadas com a corrida eleitoral para o planalto e somadas aos problemas macro, criam uma “tempestade perfeita” que desembocam numa provável estagflação.
O modelo de metas de inflação não tem sido o suficiente para controlar a inflação e os mais pobres sofrem mais pelo aumento de preços, inclusive com uma cesta básica que compromete aproximadamente metade do salário mínimo. A pandemia é um dos piores momentos para se ter câmbio, juros e política fiscal fora dos seus níveis adequados. No horizonte próximo surge uma outra onda de Covid que exigirá políticas macro anticíclicas mais potentes. Outras economias também têm sentido o aumento dos preços. Há pressões do lado da oferta em nível mundial atrapalhando a produção industrial e impedindo que se atenda a demanda mundial.