Boletim de Conjuntura Econômica 15 – mai/jun 2021
O crescimento econômico de 1% no primeiro trimestre de 2021 em comparação ao mesmo trimestre de 2020 ainda é insuficiente para expandir a renda per capita, pois a taxa de crescimento demográfico (pelo Censo de 2010) é muito próxima a 1%. O agronegócio foi o que apresentou o maior crescimento produtivo. Contudo, é importante considerar que as ocupações geradas pelo agronegócio costumam ser mais precárias (baixa remuneração, sazonalidade, etc). O avanço dos investimentos produtivos (FBKF) e o crescimento das exportações contribuíram para o tímido crescimento econômico verificado no primeiro trimestre deste ano. Este aumento do FBKF é muito compatível com o aumento da produção industrial. As exportações também estão muito associadas ao desempenho do agronegócio. Contudo, a inflação cresceu, puxada principalmente pela habitação e transportes.
Com um crescimento econômico ainda reduzido, nota-se um mercado de trabalho desaquecido, marcado pela elevada desocupação e salários estagnados. A combinação de baixo crescimento econômico com inflação em alta produz perdas no poder de consumo das famílias, desestimulando a demanda agregada. Como “colchão amortecedor” foi possível verificar o aumento neste primeiro trimestre dos ocupados informais (conta própria e domésticos), ocupações que costumam remunerar menos. Os dados para o mercado de trabalho se associam fortemente não apenas com o baixo crescimento econômico verificado, mas com uma estrutura produtiva de baixa complexidade econômica e tecnológica, marcada por baixa produtividade do trabalho e baixa produtividade total dos fatores (PTF). Problemas estruturais, somados a pandemia e às políticas fiscal e monetária tímidas, tendem a gerar menos modernização produtiva, menos crescimento econômico e menos empregos de qualidade. Os resultados das contas públicas mostram que, mesmo diante de um baixo crescimento econômico a arrecadação federal tem crescido, o que permitiria ao governo federal, no mínimo, retomar obras públicas paradas vitais para a saúde da população (centros de saúde, por exemplo) e saúde da economia brasileira (obras em infraestrutura). A dívida líquida do setor público próxima a 60% do PIB mostra que há algum espaço fiscal para aumento dos gatos públicos produtivos. O lado externo da economia brasileira, embora menos vulnerável do que nas décadas de 70 e 80, ainda mostra a dependência com exportações das commodities e com o capital estrangeiro especulativo. A política monetária tem inibido o crescimento econômico, com a elevação da SELIC (metas de inflação) e custo de crédito alto, tornando o ambiente de negócios menos dinâmico para a produção de bens e serviços.
Uma agenda de reformas econômicas deveria ser pautada pelos seguintes itens: 1. Criação de uma política industrial direcionada para as atividades com elevados impactos para “frente” e “para trás” na cadeia produtiva nacional, notadamente em atividades tecnológicas na indústria e serviços ligados a revolução 4.0; 2. Políticas de combate à desigualdade de renda, destacando a reforma tributária com impostos progressivos e sobre fortunas; 3. Políticas de ampliação da produtividade do trabalho, com ênfase no capital humano de qualidade (via educação) e investimentos em PeD; 4. Mudanças nas “regras do jogo econômico” com favorecimento do capital produtivo em detrimento do capital financeiro.