Boletim de Conjuntura Econômica 14 – mar/abr 2021
O pequeno crescimento econômico verificado em fevereiro (1,9%) ainda não é o suficiente para caracterizar uma retomada vigorosa da atividade econômica da economia brasileira, ainda sob os efeitos da pandemia. Nos últimos doze meses até fevereiro a atividade econômica apresentou queda próxima a 4%. Embora os serviços tenham puxado este crescimento de fevereiro, é sintomática sua situação, pois houve queda dos serviços prestados às famílias (-28%) em relação ao mesmo mês de 2020, indicando uma provável queda na demanda por parte das famílias. Com a crise trigêmea (política-sanitária-econômica) era de se esperar o recuo do consumo de certos serviços, como forma de contornar as adversidades atuais. O comércio varejista ampliado também recuou em relação ao ano anterior.
A indústria cresceu modestamente em fevereiro, quando comparada com o mesmo mês de 2020 (0,4%). No acumulado dos 12 meses apresentou queda de 4,2%. A produção de bens de consumo recuou também. Os bens intermediários cresceram um pouco (0,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior). A produção de bens de capital foi a que obteve maior crescimento (16,1), contrastando com o baixo nível de FBKF da economia brasileira em 2021.
A inflação ultrapassou a meta de 4,5% anuais, atingindo 6,8% acumulados nos últimos 12 meses (IPCA de abril a abril). Saúde e cuidados pessoais formam o grupo de maior crescimento nos preços (1,19%). O Banco Central, diante do aumento inflacionário, elevou a Selic para 3,5% ao ano.
O mercado de trabalho ainda se mantém desaquecido, atingindo uma taxa de desocupação de 14,4% no primeiro trimestre de 2021 e se mantendo acima da suposta taxa natural de desemprego de 5%. Desocupados e subocupados aproximam-se de ¼ da força de trabalho. Até os ocupados no núcleo do trabalho informal (sem carteira + conta própria) apresentaram quedas em relação ao ano anterior. Apenas os ocupados no setor público mantiveram algum crescimento nas ocupações. Empregadores (capitalistas) também perderam ocupações. Por atividades econômicas, a administração pública ampliou empregos, assim como também houve ampliação da agropecuária. Os rendimentos do trabalho praticamente estagnaram.
A arrecadação das receitas federais cresceu no primeiro trimestre, mesmo com uma economia fragilizada. A composição da receita administrada pelo governo federal possui uma parcela relativamente reduzida do imposto sobre rendimentos do capital. Os gastos públicos com a dívida pública interna continuam a principal despesa do governo federal, enquanto alguns gastos sociais tradicionais (saúde e educação) se mantém reduzidos.
O lado externo mostra que a balança comercial brasileira, embora pudesse conter uma maior complexidade produtiva, foi positiva e cresceu no trimestre analisado. Os investimentos externos diretos em março de 2021 ficaram próximos aos do mesmo mês do ano anterior. Houve redução das reservas. O câmbio nominal apresentou desvalorização da moeda nacional.
Houve aumento do crédito, mas com taxas de mercado elevadas. Houve queda da inadimplência. A base monetária variou pouco. O índice IBOVESPA mostrou crescimento em abril de 2021, colocando a bolsa como uma das principais aplicações financeiras.
Os indicadores do boletim parecem apontar para um aspecto macroeconômico fundamental: o baixo dinamismo da economia brasileira associa-se a políticas econômicas tímidas, tanto as relacionadas com a pandemia, como aquelas que poderiam estimular a economia, tais como uma política industrial; uma nova política tributária distributiva; uma ampliação das políticas sociais; estímulos à pesquisa e desenvolvimento; gastos com infraestrutura, dentre outros.
Com o baixo crescimento da economia brasileira amplia-se o desemprego e as baixas remunerações. Nossos problemas estruturais (baixa produtividade, educação, saúde, etc) preexistentes somam-se ao atual quadro pandêmico e assim necessitam de políticas públicas mais agressivas. O controle da inflação por meio do modelo de metas de inflação precisa ser revisto neste momento de crises trigêmeas. A pandemia expôs os problemas estruturais da economia brasileira.